É difícil se responsabilizar pelas próprias escolhas?
Leila
Francielli Ribeiro
Orientadora:
Psicóloga
Rafaela Senff Ribeiro
Resumo
O
presente artigo aborda um tema de muito interesse não só dos psicólogos, mas de
todas as pessoas que estão em busca de uma melhor qualidade de vida. Sabe-se
que a vida é feita de escolhas, porém se responsabilizar por estas escolhas não
é fácil, mas é possível. A Terapia Relacional Sistêmica é uma abordagem que tem
como objetivo auxiliar o cliente a ter consciência do seu padrão de
funcionamento, a partir disso auxiliá-lo a realizar aprendizagens que se fazem
necessárias e fazer as mudanças que são pertinentes. Sempre mostrando para o
cliente que ele é o único responsável pela sua própria vida, que esta é feita
de escolhas, e que quanto mais ele perceber seu padrão de funcionamento, mais
consciente ficará de como faz suas escolhas e consequentemente passar a se
responsabilizar por elas.
Palavras-chave:
Consciência;
Escolhas; Responsabilidade.
INTRODUÇÃO
Com o mundo moderno e
globalizado, não só a tecnologia vem avançando e mudando a cada momento, mas
também o ser humano. Antigamente a humanidade vivia baseada na crença e na
superstição, não se conhecia as leis do Universo, da Física, da Psicologia, da
Sociologia, e de todas as outras ciências. A revolução científica substituiu a
ignorância pelo conhecimento e modificou o mundo como um todo. A partir disso,
a ciência começou a estudar a fundo as coisas que aconteciam no mundo, e nestes
estudos incluiu-se o estudo do ser humano. Nas pesquisas sobre o ser humano
descobriram-se várias coisas físicas e emocionais; nas emocionais que é
realizada grande parte pela ciência da Psicologia, pode-se dizer que, na medida
em que as pessoas aumentam sua auto percepção, mais controle elas tem de si
mesmas.
Perceber
a si mesma, e se responsabilizar pelas próprias escolhas não é tarefa fácil, a
abordagem Relacional Sistêmica tem como objetivo fazer com que o cliente tome
consciência do seu Padrão de Funcionamento e passe a se responsabilizar pela
sua vida, pois esta é feita de escolhas. Quanto mais uma pessoa toma
consciência de que escolhe tudo em sua vida, passa a assumir a responsabilidade
por ela, e a vivê-la de modo que quiser.
DESENVOLVIMENTO
Se responsabilizar
pelas próprias escolhas é muito difícil, por várias questões, mas antes de
falarmos sobre estas questões, primeiro precisa-se entender o que é ser
responsável do ponto de vista relacional sistêmico e o que são as escolhas,
para então conseguir compreender este processo e assumir que o único
responsável pela sua própria vida é você.
Ser
responsável do ponto de vista Relacional Sistêmico é ter consciência do seu
desejo, ter opções de escolha, fazer sua escolha e aceitar as consequências e
os resultados dela. Escolha é ser responsável pelo comportamento, sentimento,
pensamento, enfermidades que escolheu ter, ou seja, é ser responsável por tudo
o que acontece em sua vida (Rosset, 2008).
Escolhas
e responsabilidades deveriam andar sempre juntas. Se todas as pessoas se
conscientizassem que sua vida é feitas de escolhas, e que a cada escolha se
responsabilizasse pelas consequências, o ser humano viveria uma vida mais feliz
sem culpabilidade. Não existiria mais crítica a si ou aos outros, mas sim um estado
de coisas, um funcionamento, um aspecto para ser flexibilizado e ampliado.
Não existiriam vítimas nem
bandidos, e sim pessoas cada vez mais conscientes do seu padrão de funcionamento,
que passariam a ver que cada pessoa integrante de um sistema, tem sua parcela
de responsabilidade para que ele esteja daquela forma. Um exemplo é a relação
de casal, se o casamento não vai bem, cada um tem sua parcela de
responsabilidade para que ele esteja assim. Se cada membro do casal percebesse a sua
contribuição naquela relação, em vez de ficar um culpando o outro, acabaria com
os “culpados”, pois cada um passaria a ver que a vida é feita de escolhas e ela
pode escolher continuar neste casamento que não está lhe fazendo bem, ou tentar
ser feliz de outra forma, o que as impedem de fazer diferente, o medo do
desconhecido e de se responsabilizarem por suas vidas, o casamento não está
bem, mas o culpado é o marido que não a faz feliz, e com isso, vai levando de
forma que é mais fácil culpar o marido do que perceber sua contribuição nesta
situação e carregar também sua parcela de responsabilidade.
Schutz
(1979), já afirmava isso, ele diz que: nossa vida é feita de escolhas.
Escolhemos tudo o que faz parte de nossas vidas. Escolho meu comportamento,
meus sentimentos, meus pensamentos, minhas enfermidades, meu corpo, minhas
reações, minha espontaneidade, minha morte.
De
algumas destas escolhas, escolho tomar consciência, e de algumas outras,
escolho não tomar consciência. Geralmente opto por não perceber sentimentos com
os quais não quero me confrontar, pensamentos que são inaceitáveis, e algumas
das relações de causa-e-efeito entre determinados eventos (SCHUTZ, 1979).
O que tem sido
denominado inconsciente fica, com esta formulação, desmistificado. Escolho até
isso. Meu inconsciente é, simplesmente, todas aquelas coisas das quais escolho
não tomar consciência. Não existem incidentes. Os acontecimentos ocorrem porque
escolhemos sua ocorrência. Nem sempre estamos conscientes de os estarmos
escolhendo (SCHUTZ, p. 33, 1979).
Se
aceitarmos que escolhemos tudo, a vida fica mais leve, tranqüila e feliz, pois
a pessoa percebe que está no comando e tem poder de decidir o que é melhor para
si. Quando a pessoa aceita isso, passa se responsabilizar pela sua vida, pelos
acontecimentos e para de culpar os outros pelas coisas que estão acontecendo
consigo.
Aceitar
que escolhemos tudo é muito difícil, pois cada um passa a ser autor de sua
vida. Porém é mais fácil colocar a culpa nos outros pelas coisas que não deram
certo, do que perceber que a escolha feita naquele momento foi uma escolha
consciente ou até mesmo ao nível inconsciente, mas que foi minha própria
escolha.
Mas
como conseguir assumir a autoria de sua própria história, sem colocar a
responsabilidade das próprias escolhas nas outras pessoas? É aprender a trazer
para a consciência os fenômenos dos quais não tem ciência. “Assim que se torna
consciente, as decisões a ser tomadas estão sujeitas à sua vontade. Elucidar
aquilo que é despercebido é algo bastante parecido ao tradicional objetivo
psicanalítico de tornar o inconsciente consciente” (SCHUTZ, p. 36, 1979).
Em geral, não penso
que posso escolher o modo como sinto ou como reajo diante de um evento. É mais
preciso dizer que não estou me permitindo tomar consciência da base na qual
fundamento essa escolha de sentimentos. Se me deixar ir a fundo e localizar
essa base, posso trazer minha escolha ao nível de minha percepção consciente e
então modificá-la se assim o desejar (SCHUTZ, p. 37, 1979).
Dentro
da abordagem Relacional Sistêmica, o terapeuta auxilia o cliente a ter
consciência do seu próprio padrão de funcionamento, a partir disso auxilia-o a
realizar as aprendizagens que se fazem necessárias, e fazer as mudanças que são
pertinentes.
Como
foi visto, se responsabilizar pelas próprias escolhas não é tarefa fácil, mas é
possível, e como fazer para se responsabilizar pelas próprias escolhas? Dentro
da abordagem Relacional Sistêmica, primeiramente a pessoa precisa desenvolver a
consciência do seu padrão de funcionamento, ou seja, é começar a perceber no
seu dia-a-dia como funciona a partir daí ver que pode ser/fazer diferente. A partir do momento em que a pessoa compreende
o seu padrão de funcionamento, ela inicia o processo de mudança, passando assim
por etapas, passos, momentos e movimentos que vão dando conhecimento,
consciência e compreensão do seu funcionamento. A pessoa vai descobrindo o quê
e quando dos fatos, as reações e as emoções e passa a trabalhar descobrindo
para quê faz determinada ação ou tem determinado reação, surgindo então o
desejo de mudança.
A
partir da tomada de consciência do seu padrão de funcionamento, começa-se a ter
possibilidade de fazer reais escolhas, e passa a aceitar a responsabilidade por
elas, a vida fica diferente, pois a pessoa percebe que esta no poder, que é ela
quem decide, e que é a única responsável pela sua própria vida, passando assim
ser o autor de sua própria história.
REFERÊNCIAS
ROSSET, Maria Solange. Terapia Relacional Sistêmica. Curitiba, Sol, 2008.
SCHUTZ, Will. Profunda Simplicidade: Uma nova consciência do Eu interior. Ágora,
1979.